CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS




Psicologia do Unifeso tem Aula Magna sobre Narrativas contemporâneas da desmedicalização, com Paulo Amarante

25/02/2025 18:07:43

No dia 24 de fevereiro, o Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso) realizou a primeira Aula Magna do curso de Psicologia de 2025, no novo espaço do Teatro Feso. O evento contou com a participação de estudantes de diversos períodos, que encheram o auditório para assistir a palestra sobre as “Narrativas contemporâneas da desmedicalização”, ministrada por um dos maiores nomes da psiquiatria no Brasil, Paulo Amarante.

“Fiquei bastante empolgada com o tema da Aula Magna, já que é um assunto que me interessa bastante e que está super em alta. Nós já tínhamos estudado alguns textos do Paulo Amarante em sala, e foi incrível ter essa experiência com um profissional tão importante no ramo da psiquiatria”, revelou Renata Volpe, estudante de Psicologia. Ela destacou ainda que “a palestra trouxe muitos insights valiosos para nós, futuros psicólogos, pensarmos sobre a importância da nossa atuação na sociedade”.

O professor Bruno Campos, coordenador do curso de Psicologia do Unifeso, constatou que “a presença do professor, um renomado especialista na área, trouxe uma perspectiva enriquecedora e provocativa, desafiando nossos alunos a repensarem as práticas tradicionais da psicologia e a considerarem a importância de narrativas que valorizam a experiência humana em sua totalidade”. Bruno notou ainda que “a discussão sobre a desmedicalização nos instigou a refletir sobre a necessidade de uma abordagem mais humanizada e integrada, que respeite a singularidade de cada indivíduo. Sem dúvida, essa Aula Magna foi um marco em nossa formação, estimulando um diálogo crítico e reflexivo que, certamente, reverberará em nossas práticas futuras”.



Pioneiro da reforma psiquiátrica e crítico da medicalização

Paulo Amarante se destaca como um dos pioneiros do movimento de reforma psiquiátrica no Brasil. Com uma carreira extensa e uma trajetória marcada por sua luta contra o sistema manicomial e a favor de novos modelos de cuidado para a saúde mental, Amarante tem sido uma figura fundamental na promoção da desinstitucionalização e na criação de alternativas ao modelo tradicional de hospitais psiquiátricos.

Médico psiquiatra de formação, o especialista compartilhou com o público presente na palestra reflexões profundas sobre os impactos da medicalização na sociedade contemporânea. Ele explicou como a tendência crescente de patologizar o sofrimento humano e o mal-estar emocional tem levado a um aumento do uso de medicamentos psiquiátricos.

Ele explicou que, inicialmente, seu trabalho estava centrado na reforma psiquiátrica, em particular na luta pelo fechamento dos manicômios, criticando os tratamentos desumanos que as pessoas com transtornos mentais recebiam. “Durante muito tempo, essa foi a minha maior ênfase. A ideia de que seria possível fechar aqueles hospícios terríveis e abrir formas de tratamento de cuidado que fossem de pessoas como sujeitos, recuperadas na vida”, contou.

Ao abordar as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, Paulo Amarante mencionou as novas práticas, como a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), que oferecem alternativas ao modelo tradicional de internação psiquiátrica. Porém, ele também revelou uma crescente preocupação com a evolução da medicalização na sociedade. Ele observou como, nos últimos anos, qualquer tipo de desconforto emocional passou a ser tratado como um problema de saúde mental, com diagnóstico e prescrição de medicamentos.

“A sociedade passou a tratar qualquer sofrimento com medicamentos, o que leva a um ciclo de patologização, onde qualquer dor ou desconforto emocional é tratado como uma doença”, afirmou Amarante. Ele também fez uma crítica à forma como o sofrimento humano é lidado, principalmente no que diz respeito à excessiva medicalização, ressaltando que, em muitas situações, as soluções para o mal-estar emocional não são medicamentos, mas sim apoio social, familiar e cultural.

Ao longo de sua palestra, Amarante também defendeu a ideia de desmedicalização, um movimento que propõe a retirada gradual do uso de medicamentos, especialmente em casos onde eles são usados de forma excessiva ou desnecessária. Amarante afirmou que, em muitos casos, o uso de antidepressivos e antipsicóticos acaba criando dependência, o que pode ser mais difícil de tratar do que dependências de drogas ilícitas. “Hoje se considera que retirar o antidepressivo de alguém que usa antidepressivo há vários meses é mais difícil do que o crack, por exemplo, do que o álcool. Mas as pessoas não sabem disso, porque elas acham que quando elas param, o sintoma que elas têm é decorrente da doença que está voltando e não do efeito da abstinência”, explicou.

O palestrante ainda afirmou que muitos médicos, ao perceberem os sintomas de abstinência, aumentam a dose dos medicamentos, o que agrava ainda mais o quadro. Ele alertou para a necessidade de compreender melhor os efeitos da medicação e de buscar alternativas para o tratamento. “E, de fato, tem um mecanismo farmacodinâmico, estudado na farmacologia, que chama tolerância. Você precisa de doses maiores para ter o mesmo efeito e, conforme vai aumentando a dose, vai agravando o quadro”, afirmou o especialista, que vem abordando o tema em palestras, publicando livros e chamando a atenção do tema, empenhado em provocar uma reflexão aos estudantes e profissionais presentes, com vistas a uma nova abordagem da saúde mental, menos dependente de medicamentos e mais centrada no ser humano e em suas relações sociais.



Por Giovana Campos


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