A Estratégia Saúde da Família (ESF) apresenta peculiaridades em sua proposta de atenção que pode auxiliar na prevenção, detecção e acompanhamento de famílias que vivenciam situações de violência. Entretanto, o que se percebe na prática é uma grande dificuldade do problema ser identificado como prioridade. Esta pesquisa teve como objetivos identificar se os profissionais de Saúde da Família percebem o fenômeno da violência doméstica contra a criança e o adolescente como algo a ser enfrentado pela equipe; identificar o que as Equipes de Saúde da Família (EqSF) reconhecem como casos de violência doméstica contra a criança e o adolescente; analisar o conhecimento das EqSF para identificação de situações de violência doméstica nas famílias adscritas; mapear as práticas relatadas pelas equipes para o enfrentamento da violência doméstica no âmbito da ESF e analisar as principais facilidades e desafios que as equipes apresentam com relação à notificação dos casos suspeitos ou confirmados dos maus-tratos contra a criança e o adolescente ao Conselho Tutelar e à SMS. Procedimentos e Métodos: Trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa no município de Teresópolis - Rio de Janeiro. A população de estudo foi composta por 25 profissionais de 3 equipes da ESF. A coleta de dados foi realizada através de entrevista individual face a face, com utilização de roteiro temático semi-estruturado. A análise e interpretação dos dados foram apresentadas sob a ótica da Análise de Conteúdo. Resultados: Os principais resultados encontrados foram que as EqSF reconhecem que há casos de violência doméstica nas famílias adscritas, frequentemente correlacionada ao uso e tráfico de drogas, ao alcoolismo, à desestruturação da família e à miséria. Referem como desafio a ser superado para a detecção, notificação ao Conselho Tutelar e acompanhamento das famílias o fato de terem vínculo permanente com a comunidade e a dificuldade em relação à práticas integrais de saúde diante da violência doméstica contra crianças e adolescentes, além do encaminhamento intersetorial. Detectou-se que há dúvidas ou desconhecimento sobre a presença da ficha de notificação na unidade de saúde e que se evita ao máximo a notificação dos casos. Além disso, a maioria dos profissionais de saúde se sente insegura pela falta de conhecimentos e habilidades específicas para o manejo dos casos de violência doméstica. Conclusão: É fundamental que o tema violência doméstica integre as iniciativas de educação permanente para as EqSF e que esta englobe, especialmente, informações sobre as características e formas de apresentação das situações de violência nos serviços de saúde, questões relativas à segurança do profissional, a necessidade de uma abordagem integral das famílias e estratégias que aumentem a integração com o Conselho Tutelar e outros setores da sociedade no intuito de fomentar práticas de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente considerando seus diversos fatores.