Os vasos de cerâmica estão entre os objetos mais antigos feitos pelo homem, desde que ele deixou de ser nômade.
Esses recipientes usados para conter grãos, água ou cinzas, ligados a utilidade, atividades simbólicas ou rituais. A anatomia
do vaso é uma metáfora do corpo humano, principalmente o feminino, com o seu pescoço, ombro, barriga e curvas sinuosas.
O recipiente não mais me interessa para ser usado, mas como um arquétipo formal; que atravessa diversas culturas. O vaso desconstruído, subvertido através de cortes e deslocamentos, às vezes alternando parcerias com formas fora do vocabulário da olaria tradicional artesanal, onde cubo e vaso dialogam como parte integrante da mesma obra.
Alternando cubos com vasos eu separo e ao mesmo tempo integro o suporte e a obra no seu posicionamento físico e hierárquico no espaço. Introduzo um elemento visual (o cubo) muito presente na arte construtivista, mas estranho no universo da cerâmica tradicional.
Derivado da evolução dos “Pares” de exposições anteriores que migraram para a parede está nascendo um filho híbrido - do desenho com a cerâmica, e a libertação do plano em direção ao espaço.
E quando a cerâmica vai para a parede, une o vaso à tela. Desconstrução do vaso penetrando e saindo do plano real para o imaginário. As trocas que anteriormente eram entre cubo e vaso, suporte e obra; são enriquecidos no dialogo entre o plano e o espaço, entre o vaso real e o representado, entre a linha e o corte, entre a fragmentação e o volume, entre o bi e o tridimensional.
Agora já não se trata somente de negação do utilitário, nem do caráter simbólico e cultural da forma ancestral do vaso, embora a obra carregue consigo todos esses conceitos.
Estamos discutindo categorias de “classificação” do trabalho de arte, e em diferentes linguagens, técnicas e suportes. Cerâmica, papel, desenho, aquarela, porcelana... Em infinitas possibilidades de formação de pares que dialogam entre si, reforçando a ambiguidade do duplo, semelhança e ao mesmo tempo, contraste.
Uma troca e uma complementação, enriquecendo o diálogo com o outro numa perspectiva pluralista na arte contemporânea. Reforçando a ideia de tolerância, compreensão e respeito, muito relevante em nossos dias.
Sylvia Goyanna
Exposição Individual: "Vaso de Cerâmica - Simbologia e Uso" de Sylvia Goyanna
Fotógrafo: Jeferson Hermida
Curadoria, Texto e Montagem: Sylvia Goyanna
Coordenação de Montagem: Dony Gonçalves
Fotografia : Ernani d’Almeida
Reconstrução do vaso fragmentado: Marcio Medeiros
Molduras: Enquadre
Oleiro: André Chagas
Agradecimentos: Amador Perez - Anita Leandro - Flavia Marques - Luis Henrique Souza - Monica Khan - Rosane Torres - Solange Mano - Tete Amarante
Período de visitação presencial: 30/05 a 20/06 - segunda a sexta, das 08h às 18h, na Galeria de Artes do CCFPA - acesso gratuito